quarta-feira, 30 de março de 2011

William Shakespeare - (Poema)



Como no palco o ator que é imperfeito
Faz mal o seu papel só por temor,
Ou quem, por ter repleto de ódio o peito
Vê o coração quebrar-se num tremor,

Em mim, por timidez, fica omitido
O rito mais solene da paixão;
E o meu amor eu vejo enfraquecido,
Vergado pela própria dimensão.

Seja meu livro então minha eloqüência,
Arauto mudo do que diz meu peito,
Que implora amor e busca recompensa

Mais que a língua que mais o tenha feito.
Saiba ler o que escreve o amor calado:
Ouvir com os olhos é do amor o fado.



(William Shakespeare)
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segunda-feira, 28 de março de 2011

O que pode ser mais lindo...

O que pode ser mais lindo que os teus olhos, teus cabelos soltos ao vento, teus lábios doces como o mel, tua pele macia, teu corpo perfeito, teu rosto belíssimo, tua alma tão pura, teus pensamentos tão leves?


Será que existe flor mais bela em todo o jardim... em toda a flora do planeta - do universo? Será que existe anjo mais delicado, mais sereno em toda a extensão dos céus? Suponho que não... Não posso crer que haja... Não será possível existir estrela tão brilhante, tão fulgente!


Tu és como um sonho. Um sonho tão maravilhoso e primaveril; tão encantador que ainda continuo entorpecido pelos efeitos teus, adormecido; sendo atraído por uma força descomunal para o âmago de tua ternura, para as entranhas deste amor incessante.

Mil anos de paixão não seriam suficientes para que pudesse dar-te todo o carinho, todo o afeto, todo o sentimento que há dentro de mim. 



Tu és uma fantasia que eu tornei real. Real dentro de mim. Eu abraço-te, eu beijo-te, eu sinto-te juntinho de mim sempre e mais... eu respiro-te porque tu já se tornara o meu oxigênio, a minha fonte da vida. Eu sou um rio que serpenteava sem destino até encontrar em ti razões concretas para correr, para novamente misturar-me ao mar dos amores perfumados, perder-me no oceano da tua fulgurante presença. Contornarei teu corpo, embrenhar-me-ei no tesouro dos teus cabelos; e, junto desses dourados pomos, ficarei a sussurrar brisas leves das palavras de amor ao teu ouvido... E depois deslizar-me até seus lábios quentes e úmidos para novamente embriagar-me com teus beijos demorados com profunda paixão.


Há tanto para dizer ainda, mas não consigo. Tua beleza angélica emudece-me, teu sorriso cega-me; somente tenho a tua imagem ao pé de mim. O amor que trago desmedido no peito não pode ser expresso por palavras, por isso elas se confundem e minha voz perde-se no eco da minha desesperadora solidão.


DG

terça-feira, 22 de março de 2011

Preconceito e bullying



Quando criança, meus pais mudavam bastante de casa e estudei em quatro escolas diferentes durante o ensino fundamental. Eu era daqueles tímidos, de pouca conversa, não era sociável. Nunca fui o 'bam-bam-bam' da escola. 
Nas primeiras semanas em cada uma delas, houve quem achasse que talvez 'pela cara' ou o 'jeito de andar', não sei (rs), eu teria chegado ali para ser o 'novo bobo da corte' deles. Então, lá vinham os palhaços a se meterem comigo. 
Nunca fui de briga, mas tinha os braços fortes (eu trabalhava desde muito criança, ajudando aos meus pais), então, lá pela 2a ou 3a semana a coisa já se tornava séria. Meu pavio de paciência (melhor explicar para ninguém fazer piada maldosa - rs) era curto e a emoção tomava conta fácil, fácil. 
Mirava nos olhos do mais atrevido e me arremetia sobre o fulano. Durava uns 20 minutos, talvez mais ou menos, eu não sentia dor, meus punhos, fechados, pernas enrijecidas pela ira em resgatar a dignidade a quem não outorgara o direito de achincalhar, socava muito, chutava muito, e como eu era 'pesadinho' como o amigo aí de cima, se o 'nêgo' não caía no chão, o meu corpo o fazia sem problemas. 
Depois disso, por toda a temporada naquela escola, após tal evento eu vivia em paz e sossego. Isso porque a atitude era já de início, não deixava a história crescer e ganhar vida própria. 


Não aconselho ninguém a fazer isso, não é o melhor jeito de resolver, garanto. Embora, há muita gente por aí que ainda não aprendeu o mínimo da decência e do respeito, que só consegue entender a resposta na via e no nível de sua própria estupidez. Porém, ainda assim, inapropriado. Hoje procuro ensinar ao meu filho que ele deve ganhar qualquer disputa na inteligência. Desmoralizar um 'espertalhão' na razão é muito melhor e mais prazeroso do que no braço. Mas eu não tive essa educação nem essa orientação; vivendo em periferias, a gente lidava com as diferenças era no braço e no grito.


A gente não pode nunca é perder a noção da nossa importância e a nossa capacidade de modificar um estado de coisas. Aliás, nem deixe um 'estado de coisas' desfavoráveis estabelecer-se. Assim, não terá que resgatar nada, apenas manter a dignidade e a cabeça erguida pelo seu valor como ser humano que deve e tem o máximo direito de ser respeitado invariavelmente.


O meu texto aqui ficou grandinho - sou prolixo, perdoem-me os sintéticos -, mas a cena acima me fez recordar esses momentos e se há uma coisa que eu abomine mais do que aos políticos corruptos, é a covardia de um bullying e do preconceito externado por grupos. Porque o cara sozinho não é bastante homem para encarar 'mano a mano' a vítima, eles sempre vêm em bandos.
Agradecido a quem chegou até esse final. Abraços.


DG
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quinta-feira, 3 de março de 2011

Um pouco mais de Clarice...

"Agora preciso de tua mão,
não para que eu não tenha medo,
mas para que tu não tenhas medo.
Sei que acreditar em tudo isso será,
no começo, a tua grande solidão.
...Mas chegará o instante em que me darás a mão,
não mais por solidão, mas como eu agora:
Por amor."
Clarice Lispector

Quando não é mais por nós que estendemos a mão, mas pelo outro, aí começamos a entender o amor, a entrega, a doação.
Porque o queremos bem.

Mas, por efeito colateral, sabe-se que ao estender suas mãos àquele a quem se ama, esse nada precisará fazer e então cairá na 'solidão' de não ter por quem lutar... tsc! tsc! tsc! Infelizes os que pensam e agem dessa maneira.
Esse é o grande mal dos amados que sabem que são amados: acreditar que o amor que vem basta-se.
A flor oferece seu aroma e cor enquanto puder tirar de algum lugar os nutrientes necessários à sua sobrevivência. Depois, quando suas energias e suas fontes se esgotarem, não havendo sequer quem se perceba disso, ela inevitavelmente definhará e morrerá. Então será tarde.

Todavia, há sempre um tempo para todas as coisas e também haverá o tempo de se notar que algo não anda bem. Com olhos bem abertos, todos serão capazes de encontrar motivações suficientes para dar-se conta do que está para perder e tentar corrigir. Se nada fizer, não merecerá conquista nenhuma... então será realmente tarde demais.


DG
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Um pouco de Clarice...

"E o amor, em vez de dar, exige. E quem gosta de nós quer que sejamos alguma coisa que eles precisam."
Clarice lispector


E isso é quase toda a verdade.
Mas não é o amor; e sim as pessoas que não sabem amar e, na pequenez de suas existências, 'acreditam' que amam.
Isso é posse. É como um objeto que a pessoa quer muito para entretê-la, ser-lhe útil, dar-lhe tão somente o prazer que busca; mas que não possui capacidade para retribuir.
O ciúme, nesses casos, é apenas a demonstração do seu egoísmo e do desejo da exclusividade pretendida. Nada mais. Não preserva o outro, busca antes e mesquinhamente a auto-preservação; cuida de si próprio, não se importa efetivamente com mais ninguém.
Até o dia em que perde tudo. Pois ao perder um amor, perde-se um tesouro ao qual não soube dar-lhe o devido valor.


O amor não é isso... o amor é outra coisa...
O amor somente dá e não espera nada porque não faz nem pede trocas; não se confunde com moeda, nem é um bem de consumo; apenas ama.
O amor quer a pessoa amada sempre bem, cuida do seu bem-estar, cuida da sua saúde - física e psicológica.
O amor chora junto, sofre e curte... juntos.
"O amor quer o bem, não quer o mal" (já disseram isso, né! rs)


Eu quero amar para cuidar... e se a pessoa precisar de um tempo, tenha esse tempo. Porque ela precisa disso para cuidar-se também. Mas por amor, quero estar sempre alerta.
Amar é também saber quando incomoda. Porque às vezes essa 'colação' incomoda; e será o momento de se retirar para dar ao tempo a necessária medida das coisas.


DG
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